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ETAPA RIO DE JANEIRO DA I MOSTRA NACIONAL DE PRÁTICAS PROFISSIONAIS: EVENTO ACONTECEU NO INSTITUTO NISE DA SILVEIRA EM 9 DE JULHO
Data de Publicação: 21 de julho de 2025
No dia 9 de julho, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ), por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) e do Núcleo de Saúde e Saúde Mental, realizou a Etapa Rio de Janeiro da I Mostra Nacional de Práticas Profissionais.
A etapa Rio de Janeiro da Mostra Nacional, que tem como tema “A Psicologia na luta pelo cuidado em liberdade: ontem, hoje, sempre!”, ocorreu no Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira, no Engenho de Dentro, e apresentou o vencedor regional na modalidade relato de experiência.
Durante a manhã, foram abordadas temáticas centrais para a luta antimanicomial, como a importância dos centros de convivência, a valorização da cultura da periferia e a significância do SUS na formação de futuras psicólogas.
A tarde houve roda de conversa com os cinco relatos de experiências finalistas e o anúncio do trabalho vencedor da etapa Rio, na presença da comissão responsável pela avaliação prévia dos trabalhos.
A transmissão da primeira parte do evento está disponível no canal oficial do CRP-RJ no YouTube @realCRPRJ. Assista!
Mesa de Abertura Institucional
Estiveram presentes na mesa inicial do evento representantes: do CREPOP, a coordenadora Isabel Scrivano (CRP 05/26162); do núcleo de Saúde e Saúde Mental, o coordenador Matheus Leal (CRP 05/55287); da diretoria do CRP RJ, Júlia Horta Nasser (CRP 05/ 33796) e Érica Silva, que é diretora do Instituto Municipal Nise da Silveira.
A abertura celebrou a realização da Mostra RAPS como um marco para a valorização das práticas inovadoras na Rede de Assistência Psicossocial (RAPS) e um espaço de visibilidade para as manifestações artísticas de usuárias(os) dos serviços.
Isabel Scrivano, conselheira e coordenadora do CREPOP, conduziu a abertura, explicando que a Mostra foi concebida para valorizar o trabalho cotidiano e de linha de frente das profissionais da RAPS. Ela ressaltou que o evento é de iniciativa da rede nacional do CREPOP para discutir um tema fundamental para a Psicologia.
Representando a diretoria do CRP-RJ, a conselheira secretária Júlia Nasser reforçou a importância do tema do encontro: "A Psicologia na luta pelo cuidado em liberdade: ontem, hoje e sempre". Em sua fala, destacou que o objetivo é mostrar as práticas que sustentam este cuidado como um princípio ético, clínico e político, indo além dos consultórios. Nasser afirmou o compromisso da gestão do conselho com a defesa dos direitos humanos nas políticas públicas e concluiu de forma enfática, falando que cuidado em liberdade não é utopia, e sim uma prática, uma política que é possível.
Érica Silva, diretora do Instituto, acolheu o evento ressaltando a relevância histórica do local. A psicóloga enfatizou que o instituto, palco de momentos decisivos da luta antimanicomial no Brasil, hoje atua como um polo estratégico na construção da RAPS no município. Para ela, a luta não terminou com o fechamento de leitos de internação psiquiátrica, mas iniciou "novas etapas", tornando encontros como a Mostra RAPS fundamentais para a contínua expansão e qualificação da rede.
Mateus Leal, conselheiro do CRP-RJ e coordenador do Núcleo de Saúde e Saúde Mental do CRP-RJ, contextualizou a atuação do conselho, ressaltando o compromisso da gestão com a reorganização do controle social e a disputa pelo SUS. Ele afirmou que o processo da luta antimanicomial é um movimento de transformação social que exige a construção de uma clínica que envolve o sujeito e a subjetividade em sua relação com o território e a vida.
Por fim, Isabel convidou todas as pessoas a conhecerem as referências técnicas produzidas pelo CREPOP, para orientação da categoria, que podem ser acessadas pelo site do Conselho.
Mesa 2: “Caminhos para Convivência”
A segunda mesa da manhã aprofundou o debate sobre as práticas do cuidado em liberdade. A discussão buscou pensar o centro de convivência não como um serviço, mas como um espaço potente de interação com o próprio território. Foi reforçada a ideia de que nesses espaços não há “nada para ser corrigido nem para ser tratado”, e sim a promoção da coexistência e o fortalecimento da cultura da periferia.
Participaram desta mesa representantes dos grupos Centro de Convivência Pedra Branca, Frente Estudantil Esther Morganah, Fórum dos Centros de Convivência e Cultura, Núcleo Estadual do Rio de Janeiro do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial - NEMLA-RJ, Cecco Trilhos do Engenho e o conselheiro Matheus Leal.
Mateus Leal, mediador da mesa, explicou como foi a ideia de formar a mesa “Caminhos para Convivência” que trouxe oportunidade de compartilhar as experiências com centros de convivência, com atores, com profissionais que fazem parte dessa composição tão importante para a temática da Mostra.
Cecília Estela, coordenadora do Centro de Cultura e Convivência Pedra Branca, localizado na Colônia Juliano Moreira, abordou a necessidade de pensar o centro de convivência como um dispositivo clínico que utiliza a arte e a cultura como estratégias centrais, e não como "a cereja do bolo". Ela narrou o desafio de ressignificar um espaço historicamente marcado pela lógica manicomial, transformando-o em um local de promoção de vida e encontros para a comunidade, especialmente para as mulheres negras, ex-trabalhadoras da colônia, que hoje frequentam o espaço para cuidar de si.
A dificuldade da interação com o próprio território foi um ponto central na fala de Roberta Oliveira, coordenadora do Centro de Convivência Trilhos do Engenho. Ela explicou que, por estar localizado no Instituto Nise da Silveira, o espaço ainda é visto pela comunidade como um "hospital de maluco". A estratégia encontrada pela equipe foi levar as atividades para fora dos muros, dialogando diretamente com a cultura da periferia, estando entrelaçados com a linguagem dessa comunidade. Assim, o Centro começou a se aproximar dos aparelhos culturais do bairro.
Ariadna Patrícia, representando o Fórum dos Centros de Convivência, aprofundou o conceito desses espaços, afirmando que neles não há nada para ser corrigido nem para ser tratado, mas sim diferenças para serem convividas. Ela defendeu a coexistência como uma prática contra-hegemônica em uma sociedade capitalista e propôs pensar os centros a partir da ideia de "aquilombamento": territórios de produção de diferença, liberdade e cuidado.
Trazendo a perspectiva estudantil, Rebeca Freitas e Daniel Vasconcelos, da Frente Estudantil de Luta Antimanicolonial Ester Morgana, criticaram a ausência de debates sobre a reforma psiquiátrica e o SUS na formação em Psicologia. A frente, que adota o termo "antimanicolonial" para ampliar a crítica, busca promover uma ruptura com a lógica que forma psicólogas para atender somente a uma elite. Rebeca defendeu a necessidade de "radicalizar a convivência" e a diferença para produzir equidade, como fizeram ao organizar uma semana de luta na UERJ com a participação central de usuários, artistas e militantes.
Mateus alertou para a necessidade de enfrentar a precarização do trabalho e a expansão de modelos manicomiais, como as comunidades terapêuticas, reafirmando o papel central dos centros de convivência nesse processo.
Roda de Conversa com os cinco relatos de experiência da RAPS do RJ
A parte da tarde da I Mostra RAPS iniciou com a roda de conversa com os cinco relatos de experiência selecionados pela Comissão Julgadora, sendo eles: “A interseccionalidade como ferramenta prática para a Atenção Psicossocial: Breve relato sobre o Censo Psicossocial” por Lucas Moura Santos Silva (05/75215), “Entre muros, nós e laços: a clínica da delicadeza pela equipe intersetorial” por Laura da Costa Fernandes (05/67467), “Trabalho, Renda, Arte e Inclusão Social no contexto da Atenção Psicossocial: A experiência do CAPS III Clarice Linspector” por Lígia de Azevedo Penna Menezes (05/43612), “Formação em Saúde como Ferramenta para traçar a Rede de Cuidados em Atenção Psicossocial no Carmo–RJ” por Érica Regina Victório da Rocha (05/24569) e “Sextou: relato sobre a construção do espaço de música, convivência e surpresas” por Andréa Marcolan (05/25518).
Os trabalhos selecionados detalharam práticas profissionais com impacto significativo no território e na população atendida.
Lucas Moura Santos Silva (CRP 05/75215) apresentou a pesquisa “A interseccionalidade como ferramenta prática para a Atenção Psicossocial: Breve relato sobre o Censo Psicossocial”. O trabalho, uma parceria entre a UFRJ e a Secretaria Estadual de Saúde, tem como objetivo principal mapear o perfil dos usuários da RAPS no Rio de Janeiro. Utilizando a interseccionalidade como ferramenta teórica e de análise, o censo busca compreender como marcadores sociais como raça, classe, gênero e território se entrelaçam para produzir sofrimento psíquico, mas também como podem ser fatores de produção de cuidado. O projeto visa não somente a qualificação do cuidado ofertado, mas também a produção de subsídios para a formulação de políticas públicas mais eficazes e humanizadas.
Laura da Costa Fernandes (CRP 05/67467), em seu relato “Entre muros, nós e laços: a clínica da delicadeza pela equipe intersetorial”, narrou a experiência de uma equipe intersetorial em um complexo de acolhimento institucional. Através do método da autoetnografia, ela descreveu uma crise de uma usuária, mostrando a transição de uma abordagem coercitiva e manicomial para uma prática de "clínica da delicadeza", baseada no acolhimento, no diálogo e na construção de vínculos. A experiência demonstrou como a presença da equipe de saúde mental em dispositivos da assistência social pode reduzir intervenções violentas e promover um cuidado mais digno e libertador.
A equipe do CAPS III Clarice Lispector, representada por Lígia de Azevedo (05/43612), Aline, Lidiane Matos e Mateus Oliveira, apresentou o trabalho “Trabalho, Renda, Arte e Inclusão Social no contexto da Atenção Psicossocial”. O projeto, nascido no contexto pós-pandemia, foca na geração de renda através de oficinas de sais aromáticos, customização de canetas e cultivo de plantas. A iniciativa, que conta com a forte participação dos usuários no planejamento e execução, não somente gera autonomia financeira, mas também fortalece o protagonismo, a criatividade e o senso de coletividade, como evidenciado no depoimento do usuário Mateus Oliveira, que destacou a importância de se sentir produtivo e parte de um grupo unido.
Érica Regina Victório da Rocha (CRP 05/24569) detalhou a prática “Formação em Saúde como Ferramenta para traçar a Rede de Cuidados em Atenção Psicossocial no Carmo–RJ”. O projeto, desenvolvido em parceria com a Faculdade de Medicina de Teresópolis, insere estudantes de medicina na RAPS de Carmo através do programa "usuário guia". Nesse cenário, cada estudante acompanha um usuário em sua trajetória pela rede de cuidados, transcendendo os muros do consultório e vivenciando o cuidado no território. O vídeo de uma residente de medicina, apresentado ao final, revelou o profundo impacto da experiência, que desconstruiu sua visão biomédica e a transformou tanto profissional quanto pessoalmente, reafirmando o potencial da formação em saúde para uma prática mais humana e integral.
Encerrando a roda, Andréa Marcolan (CRP 05/25518) apresentou o relato “Sextou: relato sobre a construção do espaço de música, convivência e surpresas”, uma oficina terapêutica do CAPS de Magé. O "Sextou" nasceu espontaneamente de um batuque de usuários e se transformou em um espaço de alegria, criação coletiva e desconstrução de hierarquias. Com paródias de sambas e a participação ativa dos usuários, a oficina se tornou um espaço de fortalecimento de vínculos e protagonismo, como Frederico, um usuário que superou o estigma da agressividade e se tornou enredo do samba de carnaval do grupo. A experiência demonstrou o poder contagiante da música para transformar o cuidado e impactar positivamente a comunidade. A apresentação do trabalho contou com a presença de dois participantes do projeto, que cantaram e tocaram durante este momento.
Mesa 3: Anúncio da prática vencedora no RJ
O evento foi concluído com a mesa de anúncio da prática vencedora, composta pelas integrantes da Comissão Julgadora: Raquel Andrade Barros (CRP 05/40135), psicóloga e coordenadora do serviço de residência terapêutica de São Pedro da Aldeia; Lílian Magalhães Costa (CRP 05/35102), psicóloga e diretora do departamento de Saúde Mental de Barra do Piraí e Renata Antum Gomes (CRP 05/28236), psicóloga e coordenadora do CAPS Infanto-juvenil de São Pedro da Aldeia. Ainda que não tenha participado do momento evento, Allan Miranda (CRP 05/55651), psicólogo e coordenador do Deambulatório Boratiba e supervisor clínico institucional no CAPSad III Paulo da Portela, também integrou a comissão. A mediação foi realizada por Isabel Scrivano.
As psicólogas explicaram que o processo de avaliação foi realizado de maneira desidentificada, garantindo a imparcialidade. Elas detalharam os critérios do edital, que orientaram a escolha:
Raquel Andrade destacou a importância da permanência e sustentabilidade das práticas, ressaltando a necessidade de que as iniciativas inovadoras sejam absorvidas pela política local e não se percam com a rotatividade de profissionais ou a falta de financiamento.
Lílian Costa abordou a originalidade e inovação, conectando-as à própria essência da Reforma Psiquiátrica, que busca romper com modelos rígidos e criar novas formas de cuidado no território.
Renata Antum falou sobre o critério do efeito e repercussão, lendo a poesia de uma usuária para ilustrar como as práticas devem impactar positivamente não somente o serviço, mas também o território e a vida das pessoas atendidas.
Após as explanações, foi anunciada a prática vencedora da etapa Rio de Janeiro: “A interseccionalidade como ferramenta prática para a Atenção Psicossocial: Breve relato sobre o Censo Psicossocial”, escrito pelo psicólogo por Lucas Moura Santos Silva, que emocionado, recebeu o certificado e o reconhecimento pelo trabalho, que agora representará o estado do Rio de Janeiro na etapa Sudeste da I Mostra RAPS e, se vencedor, será premiado durante o Encontro Nacional da ABRAPSO, em Manaus, entre os dias dia 04 a 07 de setembro de 2025.
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