Noticias
18ª MOSTRA REGIONAL DE PRÁTICAS EM PSICOLOGIA: CONFIRA COMO FORAM AS DUAS MESAS DO PRIMEIRO DIA
Data de Publicação: 15 de agosto de 2025
O primeiro dia da 18ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia, realizado em 24 de julho de 2025, na Estácio Super Campus Maracanã, promoveu muitos diálogos, incluindo rodas de conversa, apresentações de trabalho e mesas temáticas.
As mesas contaram com a participação de psicólogas(os) e profissionais de outras categorias, que discutiram e apresentaram ideias sobre a luta antimanicomial e o genocídio das populações mais vulneráveis. Confira mais informações abaixo.
A transmissão de todas as mesas temáticas do evento estão disponíveis em nosso canal oficial do YouTube @realCRPRJ.
MESA TEMÁTICA 1 – CUIDADO PARA ALÉM DA TUTELA OS VELHOS FANTASMAS MANICOMIAIS
As palestrantes convidadas da primeira mesa do evento foram Caroline Faria, perita do mecanismo estadual de prevenção e combate à tortura do Rio de Janeiro e mestra em direitos humanos, cidadania e políticas públicas; Patricia Magno, defensora pública do Rio de Janeiro, pesquisadora do laboratório de direitos humanos da UFRJ e ex-integrante do GT Ximenes Lopes que minutou a Resolução CNJ n. 487/2023 (política antimanicomial do Poder Judiciário); e Melissa Oliveira Pereira (CRP 05/35819), psicóloga, doutora em saúde pública pela ENSP/Fiocruz, autora de livros sobre saúde mental e gênero, e professora do curso de Psicologia da PUC-RJ. A mesa foi mediada pela Luiza Contreira Pereira Mendes (CRP 05/71315), psicóloga, com especialização em saúde da família e comunidade, servidora pública no CAPS do município de Paraty e membro da Comissão Organizadora da 18ª Mostra.
Luiza Mendes destacou a importância da luta antimanicomial para a categoria, comentou a atuação do CRP-RJ e do Conselho Federal de Psicologia (CFP) na inspeção em manicômios judiciários, para a compreensão das suas práticas.
A perita Caroline Faria explicou como funciona o Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro. “O nosso trabalho é fazer inspeção em locais de privação de liberdade, como presídios, unidades socioeducativas, comunidades terapêuticas e hospitais psiquiátricos. A ideia que concebeu o mecanismo, foi que, a presença de órgãos externos nestes locais, por si só, previnem as práticas de tortura”, detalhou. Segundo Faria, as visitas são precedidas por pesquisas sobre a unidade, relatórios anteriores do mecanismo e quantas pessoas estão privadas no local.
Patricia Magno utilizou a analogia dos “velhos fantasmas manicomiais” para relacionar o Código Penal dos anos 1940 às ocasiões que permanecem e se atualizam até hoje, como racismo, patriarcalismo, etarismo e capacitismo. Ela também alertou: “Não dá para falar somente sobre a porta de saída, é preciso falar da porta de entrada dos manicômios. Olhando para a necessidade de costuras intersetoriais entre saúde, justiça, assistência social e outras áreas do saber”.
A psicóloga Melissa Pereira ressaltou a importância do CRP-RJ em promover uma postura combativa e crítica aos manicômios. Pereira também apontou que os manicômios não são neutros, pois desde sua formação, ocupam determinados corpos, vidas e saberes. “Tem uma série de estudos que apontam que são os corpos das mulheres, de pessoas negras, indígenas e asiáticas que a psiquiatria construiu a hierarquia sobre o que é normal e anormal”, explicou.
MESA TEMÁTICA 2 – DA PALESTINA ÀS PERIFERIAS DO RIO DE JANEIRO: SUMUD E A VIDA EM TEMPOS DE GENOCÍDIO
Simultaneamente, a segunda mesa do evento teve a mediação de Mariana Patrocínio (CRP 05/82644), psicóloga com formação em redução de danos pela Fiocruz e atua como redutora de danos no PRONASCI Juventude.
As(os) participantes foram Rima Awada (CRP 08/17102), psicóloga, escritora, coordenadora da pós-graduação do curso de Psicologia e migração da PUC-MG, e tradutora do livro “Sumud em tempos de genocídio”; Gisele Florentino, economista, doutoranda em sociologia pela IESP-UERJ, e diretora-executiva da iniciativa direito à memória e justiça racial; Luca Lima (CRP 05/58930), psicólogo social e clínico, pós-graduando em terapia familiar sistêmica, atuante no acompanhamento psicossocial de vítimas de violência armada nas redes da Maré, e Colaborador no Eixo de Violência do Estado e Enfrentamento à Tortura do CRP-RJ.
A psicóloga Rima Awada enfatizou a importância de não ceder diante da violência colonial, na qual a resistência mental e emocional é tão necessária quanto a física. “A pior coisa que pode acontecer com uma sociedade que passa por tudo isso é ela se entregar. É isso que os colonizadores querem: que as pessoas colapsem, inclusive mentalmente. Mas enquanto uma pessoa estiver resistindo, isso tem o potencial de humanizar todas as outras”, comentou.
Gisele Florentino falou sobre como é dirigir, com Fran Sérgio Goulart, a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial, organização da Baixada Fluminense que monitora as violências praticadas pelo Estado. “A gente trabalha com desaparecimentos forçados, chacinas, feminicídios. Tudo aquilo que ninguém quer ver, mas que o Estado opera com excelência nas famílias das periferias”, explicou. De acordo com ela, o modelo de segurança pública vigente não se sustenta em lógica de proteção, mas sim de lucratividade. “Matar preto, pobre, favelado dá muita grana”, pontua.
Luca Lima declarou que o pensamento em saúde na favela exige encarar a morte como parte constante da vida. “Como eu concebo saúde com alguém que já está enlutado? Como eu cuido de uma mãe preta que sente que não vai dar conta de salvar os outros filhos?”, questionou. Atuando diretamente em operações policiais no Complexo da Maré, ele exclama: “Não chego só como psicólogo. Chego como homem preto, favelado, que carrega junto as mesmas marcas.”
Assista às mesas 1 e 2 acessando o canal oficial do CRP-RJ no YouTube www.youtube.com/@realCRPRJ
notícias